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2007/06/13

Perdón, Perdón!

Espanha, Pamplona, Navarra; Hotel Abba Reino de Navarra, Quarto no. 103


Quarta-feira, 13 de Junho de 2007, 23.40





Dormi pouquíssimo. Ou foi de emoção por estar fora do controlo paterno durante alguns dias, foi por não ter posto almofada debaixo da cabeça, foi pelo frio e barulho do ar-condicionado, foi por ter deixado a janela aberta; o facto é que passei a maioria da noite a pensar - em tudo, em tudo.

Ouvi o reboliço do avô às 7 da manhã (portanto, 6 da manhã de Lisboa), e pelas 8 e 10 a 'vó veio aqui chamar-me. Voltei a deitar-me, e às 9 e meia tinha um bater à porta despachado que se traduziu num cambalear sonolento até à porta e depois, pela primeira vez na vida - note-se que eu sou uma "criança" viajada - experienciei em primeira pessoa uma barreira linguística. Foi do sono? Perhaps. Mas que é facto que não faz qualquer sentido eu ficar atrapalhada com espanhol, é. "Buenos dias.", disse-me, num sotaque andaluz carregado. "Buenos dias", respondi, com uma melodia argentina que me transportou por momentos. E depois, zás, ficou especada a olhar para mim. Abri a porta do quarto e ela deparou-se, enfadada, com o meu portátil na secretária e eu disse feita avô Zé "puede por en la cama", corrigindo "por favor, coloque en la cama". Ela ficou a olhar para mim e deu-me uma factura para assinar.

Tive uma conversa agradabilíssima com um amigo com quem não falava há muito, logo pela manhã. Concluí o Trabalho de Educação Física (YES!! ficou espetacolheres), e pelas 11 entram-me pelo quarto adentro. Não estão bem a visualizar o filme: maquilhagem esborratada, sapatos pelo chão, cabelo de ouriço caixeiro, pijama abandalhado, e um ar de sono que nem vos digo. "OH!!! Pérdon, Perdón!!" e com isto fecha-me a porta. Depois de ouvir que ela tinha saído do plantão em que ficara à porta do meu quarto, pus o sinalzinho "DORMINDO" na porta, e ia a fechá-la quando ouvi o telefone a tocar. Um pedido de desculpas de uma empregada atrapalhadíssima, a perguntar quando é que poderia voltar para arrumar o quarto. 'Tabééém.

INVASÃO DE PRIVACIDADE - quando pensava encontrar-me em paz, bate-me a avó à porta. Eu mal saíra do banho. Era uma e meia da tarde (vida de hotel é que é, babe). Senta-se na cama, eu a querer vestir-me e arranjar-me (não gosto propriamente que me vejam a por a roupa interior, creme, etc) e ela aqui. Sei que não fez por mal, mas anyway, que seca!!

Apanhámos um táxi e às 15.00 estávamos à porta do Ristorante C. qualquer coisa (era um nome italiano), o melhor restaurante a que fui. Atendeu-nos um maricas simpatiquíssimo (homofobia aparte). Almocei Salada Caprese (o meu clássico) e depois Risotto con brocoli y queso, óptimo, e provei o gelado de chocolate do avô. Um paraíso gastronómico.



Decadência: fui com a avó a pé até à Bershka do sítio, onde gastei 20 euros em coisas giras de uma moda que se começa a ver cá (depois mostro, bem engraçadas) e depois ao El Corte Inglés, onde me aconteceu algo fascinante: fiquei com claustrofobia. O ECI de Lisboa é muito maior, e senti-me quase que apertada nestre!! Não comecei aos berros e tonturas - Deus me livre - mas não estava muito cómoda lá, não. Comprei eye-liner e mais umas futilidades pouco importantes, e dois pares de sapatos de tácon lejano para o Verão. Mas agora à parte gira:



A cidade é linda. Perfeita. Foi feita à minha medida: com a grandeza e imponência do Mundo, mas pequena para que caiba da palma de uma mão. Perfeita.

Foi desenhada para andar a pé. No sopé dos Pirinéus (que fitam-nos do alto, sombrios, metendo-me imenso medo, devo confessar... não sei porquê), é completamente plana e acimentada, num cimento cómodo ao olhar por ser disposto como que em blocos. Completamente acessível a cadeiras de rodas (não que precise, felizmente, mas só para que se perceba), dá gosto andar a pé em Pamplona. A brasa que estava, a segurança e simpatia contagiada pelas pessoas, tudo a um ritmo calmo de boa-educação que nos embalavam suavemente num espaço sem tempo. Os verdes dos parques espalhados pela cidade puxam-nos, chamam-nos, cantam-nos docemente. É facílimo orientarmo-nos por aqui, também, pois as placas estão por todo o lado (em Espanhol e Navarrez - um dialecto estranhíssimo), e as pessoas parecem sempre querer ajudar.

A cidade vai-se enchendo de estudantes antes dos exames de Junho e Julho. Joggers correm em frente ao Hotel constantemente, metendo inveja (quem me dera ter trazido o fato de treino!!). Grupos de jovens deitam-se no relvado e conversam despreocupadamente. Às vezes apetece-me ligar aos meus melhores amigos para conversar, para falar, mas é como se o ambiente pedisse silêncio e contemplação. Too much Opus? Perhaps. Que é facto é que há algo de diferente na cidade... ou então é de mim, sim. Ou então sou eu que simplesmente me entusiasmei tanto com esta pequena fuga, esta viagem, que não evito sorrir de cada vez que me lembro onde estou - e, oh, tudo me lembra este descanso maravilhoso (E FALSO - portfolio... hehem) onde me encontro, parada no tempo, numa cidade atirada a um canto de Espanha em que tudo se conjuga calmamente, num puzzle vocacionado para o estudo e a pacificidade.



Não me apeteceu jantar. Instead, fiquei a "tratar dos meus assuntos" (hehem, tentar fazer o portfolio.. cof cof... tentar!) e observar, imóvel, o pulsar ritmado da vida neste dia normal em Navarra. Sim, ok, admito: estou apaixonada pela cidade, por esta urbe idílica onde me apetece "virar as costas para o Mundo", e lançar raízes. Só gosto mais de três cidades no Mundo: Lisboa, Alter-do-Chão e Angra do Heroísmo.



Vou dormir. Amanhã a Guadalupe vem buscar-me para o passeio na cidade às 10.00 da manhã, (09.00 de Lisboa), e tenho de me levantar uma hora e meia antes. Até que estou entusiasmada!





A viajante,



Francisca Soromenho
acompanhando a maior viagem de todas