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2007/09/08

Sem ti.

Sem ti, não há a graça de ver o amanhecer numa praia deserta.
Sem ti, a noite perde a adrenalina pulsante que me faz procurar, de entre milhares de rostos desconhecidos, a tua face sublime e inesquecível, a tua figura elegante que nos puxa o canto do olho de dentro de uma multidão.
Sem ti, ficam inutilizáveis nos tempos muitas gargalhadas e muitas fantasias jogadas fora, aladas e brancas, sobre o travar de um cigarro.
Sem ti, perdem o sentido todas as utopias pensadas, porque és a razão do seu existir.
Sem ti, não há espera possível que valha a pena, nem razão para o dilema hesitante de te aguardar, ou correr para o teu encontro.

Não há delírio comparável, nem sorriso tão enigmático quanto o teu. Não há escultura mais exacta do que a forma do teu corpo, nem mãos mais fortes e seguras que as tuas. Não há gargalhada mais franca e entusiasmante do que as tuas. Não há na Terra olhar tão penetrante, e ninguém que me conheça tão bem.
Porque desceste ao meu mesquinho mundo e me deste a mão? Porque saíste do teu pedestal ofuscante, se só para me sussurrar ao ouvido promessas que se estendem na areia como as vagas de mar? Porquê inquietar-me na minha pequenez, e me dares a esperança glorificada de algum dia ser algo aproximado ao digno de ti?
Podes me pedir tudo, tudo em troca, pois daria de bom grado o sopro de vida que há em mim por um simples toque divino teu. E deste-me mais, muito mais, de mais até para o que uma simples mortal como eu poderia jamais aguentar.

É demasiada beleza, é demasiada emoção. É um perfeito “demais” enervante, que me faz duvidar da realidade do momento. És demais, demais para existir, demais para que sequer me contemples… és demais.São quimeras destas que fazem o Viver valer a pena. Por vezes, passamos vidas inteiras à espera que aconteçam e, no entanto… não deixa de ficar em nós a estranha dúvida do porquê. Um porquê amargo que nos vai remoendo a cada segundo do dia e a cada badalada da treva, só para cortar com acidez o doce viciante de todo este sonho.
Francisca Soromenho 2007/09/07

Ainda te sinto.

Ainda te sinto.
Ainda te consigo sentir ao meu lado, a tua presença sólida atrás de mim. Ainda consigo distinguir no espaço do nada os teus olhos que me fazem cegar, a tua voz que me vai ensurdecendo devagarinho, e o teu toque que sempre me paralisou, por dentro. Ainda sou capaz de desenhar no vácuo da solidão os teus contornos fluidos e traços marcados, ainda consigo distinguir e acariciar a tua textura viva no ar por onde passaste. O contraste aliciante da tua figura ainda me atrai para sítios por onde estiveste, e não resisto a passar revista em tudo onde tocaste... tudo, tudo ainda emana bocadinhos de ti.
E tudo sabe a ti. O teu sabor ainda não saiu da minha boca, ainda ficou na minha memória. O teu cheiro entranhou-se nos meus dedos, nos meus cabelos, na minha própria pele, em quem eu sou. E não resisto recordá-lo com a amargura que acarreta qualquer cheiro enjoativamente viciante que, de tanto se cheirar, já nem se nota... mas pelo qual se anseia, no mais fiel dos hábitos rotineiros e ritos automáticos do quotidiano. Foi um vício rápido, contudo, arrebatador, e com promessas de ser duradouro... quiçá eterno.
Ainda em mim se roça o duro dos teus lábios e o calor das tuas juras. Ainda em mim se passeia, deambulante, o áspero das tuas mãos e dos teus beijos fortes. E arrepio-me, à noite, por sentir o teu respirar a um canto do quarto. E sinto falta do teu abraço apertado, do teu calor e o confortável que foi por um momento desejasse que fosse “para sempre”. Dos teus dedos pelos meus cabelos, de relance passeando-se no meu braço... durante horas a agarrar a minha mão.
Oiço-te vivo, físico e imutável nos meus passos. Atrás de mim. Sempre, inabalável, a acompanhar-me e dar-me força ainda que no silêncio de um sorriso quase que sussurrado nas esquinas, quase que um murmúrio de alento e conforto de quem “lá está”.

E sei-te igualmente preso, igualmente arrastado, igualmente recordado. Igualmente firme na crença de que estou sempre contigo, em ti..., sabes bem. Tal como eu ainda te sinto, a meu lado, comigo, presente dentro de mim, também tu tens a certeza de que eu não te abandono. Nunca. E confirmo-te que não só é uma certeza tua, como é uma verdade. Porque eu ainda te sinto.

Francisca Soromenho
acompanhando a maior viagem de todas