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2007/09/09

dor fantasma



Estás sempre aqui, sem estar. Oiço a tua voz, sem falares. Vejo o teu corpo, sem te acercares. Sinto o teu cheiro, sem que a mim te chegues. Tremo com o teu toque, e não é preciso que existas.
Serei louca? Ou a tua separação é a pior tormenta de todas? É uma dor que tortura, clinicamente, sem matar; é o amputar irracional de parte de mim e mostrar-me que sou incompleta, sem ele… sem ti. Porque não morreste, não desapareceste! És, estás… só que longe. Só que separado de mim por um oceano, por um universo, por todo o cosmos que me quer dar tempo. Tempo que se arrasta e prolonga, dias que não passam, horas que mangam, minutos que se riem do meu desespero e segundos afiados que se divertem a demorar. Toda uma estação em seu esplendor, em calor estival que tende a arrastar as semanas e os dias sem repousar em ti.
Às vezes pergunto-me se sofres, se gritas, se igualmente te encontras à beira da demência, com uma urgência louca de amar… De facto, até gostaria que assim fosse. Ao menos, sentir-me-ia mais acompanhada.
Tento distrair-me, tento ignorar! Mas aquela sensação estranha e inexplicável de falta perdura, não obstante o que faça para o evitar. Às vezes, quanto mais me tento abstrair, pior.
Sinto-me responsável por ti, como parte integrante que és, que foste. Continuo a imaginar, de pálpebras cerradas, de olhos postos no horizonte ou na paisagem galopante, o que fazes, como te trais cegamente, como me vendes sem reflectir… como te entreténs num mar mais quente e salgado, e numa areia mais fina que tem a sorte de te beijar, por peles mais morenas e sonhos amolecidos em vagar. Não evito, antes de adormecer, te rever por instantes, e passar-te a mão pelos cabelos (num sonho imenso que me parece tão real!). Sim, ainda que o que me dás hoje, seja só uma lancinante dor fantasma, outrora, num singelo momento, fizeste-me completa – e isso vale por uma vida inteira.
Farei por não te inquietar como me atormentas, mas sabe só isto: de cada vez que o vento soprar com mais força, sou eu que te falo; quando a espuma do mar cair de mansinho na tua pele trigueira, sou eu que te beijo; quando se fizer de súbito um silêncio musical que te murmura palavras ao ouvido; lembra-te que sou eu – só eu, numa costa oposta, num sol poente que confronta a tua aurora – que penso em ti, sempre. E recorda-te que é assim, nesse estado nostálgico e saudoso, que eu vivo – todos os dias, todos os segundos, permanentemente, desde que partiste. Com esse rasar fatal de paixão que eu convivo, com essa falta de Ser que martiriza impiedosamente, numa constante descendente que me prende num turbilhão de emoções contrastantes e ferozes, para me consumir. Prendeste-me para sempre e, de longe, sinto-me responsável por te evocar num canto macio de quem ama. (Fazes-me tanta falta!…)


Francisca Soromenho, 2007/07/20
acompanhando a maior viagem de todas