Should this blog be deleted?

2008/06/06

DESACTIVADO

Como há pessoas que não conseguem manter a matraca fechada, este blogue foi desactivado. Quem estiver interessado no novo endereço que me pergunte.

Obrigada, beijinhos
Foi uma boa viagem

2008/04/14

QUEM NÃO GOSTA QUE NÃO LEIA

Non, rien de rien...
Non! Je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait,
Ni le mal, tout ça m'est bien égal!

Non, rien de rien...
Non! Je ne regrette rien...
C'est payé, balayé, oublié;
Je me fous du passé!

Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux!

Balayés les amours
Et tous leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non, rien de rien...
Non! Je ne regrette nen...
Ni le bien, qu'on m'a fait,
Ni le mal, tout ça m'est bien égal!

Non; rien de rien...
Non! Je ne regrette rien...
Car ma vie, car mes joies
Aujourd'hui, ça commence avec toi!...

2008/04/07

Conversas (Recantos da minha vida)

Encontro-me aqui sentada no meu cantinho preferido da casa – que, por analogia, lembra-me um pouco toda a minha vida – e penso em ti, novamente.
Neste canto, neste exacto lugar, onde tantas vezes sorri sem razão nenhuma, onde tanto me ri em voz alta até que me viessem as lágrimas, onde tanto partilhei e ouvi atentamente, neste sítio que muito me viu sofrer, em delírios amorosos ou desgostos pessoais. Por esta janela, já me perdi de amores por ti… Nesta exteriorização da minha intimidade – pela forma de uma mesa, uma cadeira, e um vidro para minha cidade – cresci, debati-me, esforcei-me, e simplesmente dei de beber aos olhos e matei a sede da Alma no Tejo. Muito vivi, neste lugar. Agora, tudo parece superficial e passageiro, ante a intensidade da nossa Paixão fulminante, e da descoberta de – sim – um grande Amor.
O Céu está claro, a noite aguarda… e Lisboa sustém o fôlego, por antecipação da alvorada que se avizinha.
Estou a ser trespassada por um turbilhão de emoções, e por mim passa uma infinidade de latejares que não pediram permissão: e estou esmagada, arremessada, compelida pela própria escuridão. Mas, de forma consciente e voluntária, vou caindo neste ócio que me vicia, e que se vai tornando doce à minha boca. Espero que, por uma sintonia transcendente que tantas vezes tivemos, antevejas esta mensagem – e percebas que tu não és uma obsessão nem um projecto, nem um sonho nem uma meta, mas uma necessidade em mim infundida.

Em que errámos, meu amor? Como pudemos ora estar mergulhando na mais mútua e profunda das emoções, embebidos um no outro, ora estar assim – neste silêncio absoluto em que palavras ficaram por dizer, e emoções por contar?
Fui eu? Que não te dei espaço para voar, e acabei por te sufocar com tanto mimo e cuidados? Ou foste tu que, por medo, deixaste que se criasse este muro intransponível de choros abafados e pesos na consciência, sem alívio possível, por te ter faltado a confiança?
Ignorei tudo; deixei de lado o meu orgulho, fiz vista grossa a sinais repetidos com o intuito de fazer que me acautelasse. Por ti, pus de parte tanto, tanto!

A noite apaixona-me! E quero diluir-me na clareza desta Lisboa adormecendo, que a minha vista abarca do Castelo a Santa Isabel. Dissolver-me nas colinas, fazer parte dos fotões de luz nos candeeiros, derramar-me e escorrer do Rato até ao Terreiro do Paço e entrar no Atlântico para sempre. Vou-te traindo, pensando que quero fundir-me neste breu quase mais do que te quero a ti.
Mas, não. Vou sempre ter saudades do teu perfume, e agonizar por pensar que nunca mais te hei-de beijar… Vou sentir a tua falta, querendo-te mais do que ao calor estival num dia de Inverno, mais do que à chuva em tempo de seca, mais do que se quer a água para aplacar a sede. Quero-te, de maneira passiva (estar em ti, encostada, abraçada, segura) e como não se quer a gente… como se tem ânsias da Morte em momentos de dor.

Esta hora diz-me tanto. Nestes primeiros momentos do dia que começa, lembro-me dos teus jeitos e da união de Ser de que comungámos. Era a nossa hora, o nosso momento… o único em que nos entregávamos um ao outro, sem olhar para trás, dando azo a desejos e contando segredos em surdina, fazendo planos e querendo amar, para sempre. Hoje, agora, caminho novamente só. De pensar que tanto tempo me acostumei a esta solidão, e agora me custa tanto a companhia dos meus próprios passos!
Queria pedir-te para voltar, que esquecesses o Mundo e me visses só a mim. Mas não dá, não posso, nem bem quero… Quiçá por medo da rejeição. Oh, conflito interior, não me peças para escolher entre um de nós!

Estou cansada, e busco forças no firmamento – o mesmo sob o qual nos conhecemos, certa noite, quando o rio repousava à nossa frente, e uma fria aragem passava para nos fustigar… Que dor, que dor! Este viver por ti e para ti, somente, pelo simples facto de não te poder ter. E preciso de razões que justifiquem todo este martírio, e de certezas que atenuem esta dor, esta frustração que me toma de completo e me desconcentra de tudo o mais. Apenas este luar me absorve, por momentos que me parecem, em jeito de paradoxo, curtos mas intemporais, (os primeiros pela minha miudeza de Espírito, perante a Majestade das estrelas, e o segundo por estar de ti apartada).

Já me decidi: vou largar-te. Vou largar o quanto te adoro, quanto te quero, e o meu sentimento por ti será como o murmúrio da água sobre pedra – um clamor silencioso e agradável ao ouvido, que se vai adensando na Natureza de quem ouve e moldando a própria rocha. A seu tempo, hás-de perceber o quanto parte de ti já sou, e a falta que te faço; pois não me convences de que tanto sentimento passe indiferente, por um rasgo de Razão. Na voz do vento que te beija a face, serei eu, cantando; e a água fresca que te molha será mais uma memória do que partilhámos. E, sem tendo a autoridade para de ti exigir o que quer que seja, hás-de me dar uma explicação, por essa mesma nostalgia…ou assim espero, desejo, preciso; para que descanse.

Fora tão simples o agir, quanto é o falar. Fora tão simples comandar a emoção. Fora tão simples Entender verdadeiramente. Não é; abandono-me à Vida, e a ti.

Sabes? Sou Feliz. Independente do que tenha vindo e do que vier, não me arrependo de nada, e teria repetido tudo exactamente da mesma maneira, (depositando apenas maior fervor em cada beijo e abraço, hoje que sei o seu valor…). Valeu a pena, tudo, e se morresse agora, seria com um sorriso rasgado na face – e com uma grande gargalhada, fora de facto, a teu lado! “…Podia ficar, assim, para sempre.”



Francisca Soromenho

2008/03/17

untitled, unspoken

Há uma comunhão silenciosa de sensações e pensamentos que nos invadem, há uma fusão numénica de Ser, entre nós e, caídas do Céu após muito reflectir, as respostas para o que nos atormentava. É assim tão simples, deixar o vício da adrenalina que me consumia, e ver no nada mais puro e desordenado um sentido que me salve?
Ò, doce feitiço, companhia vigilante das primeiras horas da Alva, tu que cuidas num todo o que Sou, do que preciso e o que quero, concede-me hoje a mais ténue garante de que o que vivo não é só uma ilusão. Farás com que se dissipe a miragem, mostrando que no reflexo não há uma cópia, mas uma reciprocidade deste mesmo intenso experienciado?

Não fales, pois entre nós as palavras perdem-se e o sentido é apreendido com apenas um olhar. Deixa que me quede, baloiçando-me no grave da tua voz, mergulhando no profundo do teu olhar pardo… Vagueando pelas linhas do teu rosto e contornos que assumes ante mim. Fundindo-me com o macio da tua pele, emaranhando-me em regime voluntário nas ondas do teu cabelo, deliciando-me com o teu perfume, e bebendo dos traços que te tornam a meu Espírito Evidente.
Com o mesmo tom sublime com que me trespassaste, invetera-te agora em quem Sou, sem que me peças permissão, pois no meu raciocínio turvo temo negar-te, por receio puro do que possa vir a achar. Impõe-te, vera Essência! Que neste “perceber” contínuo, passando pelo poço inesgotável do que fomos adquirindo e queremos absorver, há uma magia perfeita e circular, a que insistimos denominar “fado”. Há a representação demasiadamente clara para que a apreendamos, e tentamos infundir um cariz místico neste Autêntico que se apresenta... por vezes, a Verdade é demasiadamente despretensiosa para se compreender, demasiado nua para que se contemple: demasiadamente verdadeira para se admitir. E careço de uma certeza palpável, que anule as dúvidas interiores que versam sobre a minha Ideia difusa, que distinga doravante e para todo o sempre o Quimérico do Real.

Alma gémea, perdida noutros mares que por ti clamam, sob o mesmo sol que apresenta faces distintas, que do mesmo berço e núcleo duro emanas… quão infantil é a nossa descoberta, neste estado maravilhado de perplexidade em que fomos forjados, para realizar por fim não há solidão! Apenas trevas afastadas pela Luz una da vitoriosa compreensão, numa matemática intocável que entre nós se decifrou.
Consorte de toda uma jornada, que para a mesma meta se dirige, não obstante os desvios que tenha de tomar; aceita hoje a minha Força como fonte última de conforto, que te aplaque os temores para que possas em pleno acabar com os meus, e dá-me a mão para que transponhamos este obstáculo que se acerca – a cegueira de não te reconhecer.

Ultrapassamos esta sobreposição de almas, numa união que deifica a nossa Natureza falível de animal. Finalmente, esta liga inquebrável, num aproximar furtivo mas calculado, num momento que transcende o que nos rodeia, se consuma, de maneira intemporal.
E silêncio, e calma, e nada… estendendo-se no Entendimento, antes do Princípio e após o Fim. De onde tudo advém, por onde tudo passa e para aonde tudo remete – o Todo arraigado no Ser.
E nós dois, e nós dois...

Francisca Soromenho

2008/03/16

Skydiving

É um crime cometido com plena consciência, é um pecado admitido sem arrependimento; já é tarde para pedir desculpa um ao outro, por ter num momento ousado voar.
Lentamente, num depressa ao olhar dos homens (mas numa mansidão que só nos entendemos), fomos nos libertando a custo da nossa prisão interior, rompendo os altos muros do receio de ser amado e amar.
E agora?
Para melhor ou pior, graças a ti agora assim me encontro.
Processo irreversível; já estou em queda livre: ou tudo se acaba, ou apareces tu para me salvar. Virás em meu socorro? Serás tu o milagre por que orei, a chama para acabar com o meu percurso errante nas trevas, a chuva da tempestade de quem sou? Ou és tu uma ilusão, um reflexo doente dos meus delírios, um produto de uma imaginação febril que só a ela mesma pode recorrer?
Doce miragem que me alicias, resposta dos meus sonhos mais profundos ou desejo concedido… Nunca me abandones.

Francisca Soromenho

2008/03/12

"Clique"


Um clique, dois cliques, três cliques e o meu Mundo gira!

Com um piscar de olhos, clique, mais um clique, e outro ainda mais.

Não forces; deixa clique, deixa a vida clicar. Quanto mais cliques que se clique mais vamos gostar!

2008/03/09

Se eu pudesse...

Se fosse tudo como eu gostava, era tudo simples. Era tudo perfeito e circular, mas com sentido e direcção; e eras tu e eu apenas.
Se se concretizasse o meu sonho, não haveria coacções externas, nem histórias nem delírios, nem constrangimentos nem dúvidas que nos pudessem deter.
Se escolhesse, com um olhar apenas se comungaria de todo o Mundo, de toda a Vida que há em nós, sem ceifar parte do que nos torna mais e melhor.
Se ousasse confessar-me, veria que partilhavas da mesma opinião, (para variar...), e que os desejos amordaçados eram desígnios incontornáveis - tendo nós apenas que a eles aceder.

Mas se soubesse antecipadamente, teria deixado a minha alma ao relento? Ter-me-ia sujeitado à fatal desilusão, de que estávamos condenados a um "impossível" perfeito de mais? Teria vivido a ilusão doce do encontro? Do momento eufórico que antecede a catástrofe?
Ò terna híbris que me matas sem sangue derramar! Quão impiedosa é tua sentença, que com o último fôlego de esperança me afogas!Valeu por tudo, o contacto.

A construção onírica de que seria num instante todo o sempre, sem margem para erro nem engano. E que uma vez juntos, nada nos separaria - soubéssemos que fora só em coração!

Se pudesse, não voltaria atrás.
Valeu por tudo, a fusão de almas – mesmo por que breves instantes.
Se pudesse, era hoje, era agora, era sempre. E existíamos somente para amar.

A viajante, novamente perdida,
Francisca Soromenho

2008/03/05

Maninhos...

Vêm este Agosto.

A de cima é a Maria Antónia,
o de baixo vai ser o meu afilhado, o José Maria.

Tinha mesmo de contar!!!


A viajante e irmã babada,
Francisca Soromenho


Fotografia 4 de Novembro de 2007, Quintã de Soalhães.

2008/02/28

um mês depois do último post - FILOSOFIA

Passamos vidas inteiras desesperadas, embrenhados em problemas e ponderações, em análises detalhadas do quotidiano e reflexões exacerbadas de quem somos, canalizando a paixão para esta compulsão doente e humana que é encontrar o sentido da vida. Encontrar um sentido que seja, uma explicação profunda e inconsciente para tudo o que é, o que se vai fazendo, o que nos acontece, o que pensamos.
São dias, anos normais, recheados com o que é de corriqueiro e medíocre, em que não evitamos sentirmo-nos dormentes ao Tempo – de tanto método e ciência perdemos a capacidade inata de desfrutar a Graça de Viver, os dons que nos são dados. Desperdiçamos talentos e vocações, apagamos chamas criadoras para não nos distrair desta psicose louca, de nos prepararmos para uma vida que nunca chegamos bem a viver. Para quê? Para dar desculpas aos pequenos vícios, alimentar com justa causa a nossa preguiça, estimular a insensibilidade ao pequeno – porque nada nos satisfaz, de tão óbvio que se nos torna a intenção por detrás.
Às tantas, de tantas camadas de essências que ansiamos por tornar nossas, escondemos o que é de basilar e sublime. O Homem vai se perdendo, e como está é uma designação vasta – de uma tamanha nobreza impessoal, que até requer maiúscula – esquecemo-nos de quem ele é: cada um no seu contexto, no seu plano natural, com as suas características e personalidade. Porque todo o conjunto parte de vários unidades individuais, neste caso, de vida.
Vamos burocratizando tudo, sistematicamente, num desenfreado de organização, catalogando a mais pequena peça do jogo da nossa vida. As definições, do que sejam, passam a ser tão específicas que nos restringem ao ponto de elas deixarem de ter significado e utilidade. As sensações, por serem ontológicas, tornam-se inválidas. As percepções, por passarem por filtros pessoais, consideram-se distorções da realidade. Os raciocínios, pelo esforço mental que pressupõem, são demasiadamente obscuros e exigentes para serem aceites.
Por calcularmos tantas médias, elaborar tantos padrões e perfis, tentamos chegar ao chamado “ponto de equilíbrio” – evidentemente anormal e suspeito, dado que somos uma combinação incandescente de características diversas –, e recatados nesta tentativa de encaixar, contentamo-nos ao sonhar com originalidade.

Acostumámo-nos ao formigueiro de quem tanto se preocupa em sentir, que nada sente. Percorremos mil caminhos, lemos mil livros em busca de um algo que identificamos prazer – que de tão racionalizado, não é nada –, e fugimos tanto à dor que esquecemos o valor do sofrimento, como elemento construtivo.
Estamos numa sociedade que de Ser não tem nada, que se fechou numa redoma em que nada sente, e que de tal modo se afogou em restrições que não tem espaço nem tempo para respirar a brisa fresca da Razão, das construções mentais com o que de certo nos advém.

Fomos roubados, tiraram-nos tudo! Até as crenças, até a esperança, num turbilhão de nadas que nos paralisam. A única força profunda e modificadora, que ainda tem a capacidade de nos moldar, é o anelo visceral e uterino que nesta caminhada sempre nos acompanha, necessário à certeza de que estamos incompletos, inacabados, que nos falta algo que a língua nunca será capaz de atingir. A nossa maior ambição, uma incógnita comum a todos.
Igualdade? Justiça? Fraternidade e comunhão? Paz? Felicidade? Perfeição? A Verdade? Tantos conceitos puros que hoje se ficam pelo papel, sobrevoados por ideias distintas e contrárias do mesmo Ideal último ainda não experienciado.
Soterrados debaixo de preconceitos que pesam, debatemo-nos, revoltamo-nos em vão, sem a conclusão nenhuma chegar. Nem do que é, nem de como o obter. Contudo, é esta a inconveniência que nos atormenta: a certeza, expressa ou mesmo que amordaçada, implícita, de que não nos bastamos. Alguns desistem. A maioria não o consegue fazer. E alguns persistem, aproximando-se perigosamente do seu objectivo – o da derradeira e intemporal busca humana, pelo cerne amorfo de que todos partilhamos e que, sem o viver, todos conhecemos. O Mistério final, inicial, que tudo envolve.

E não digo que algum dia vamos encontrar aquilo, o precioso “aquilo” de que todos estamos à procura, e não tem nome. Mas num dia, um longínquo próximo dia, vamos acordar para a vida; para realizar que temos o que é preciso. E através do cumprimento recto do dever – do que tem de ser feito, de tudo o que de bom podemos – aí, chegaremos, em pleno, à Felicidade, à Perfeição, ao Espírito. Nesse dissipar transcendente de trevas e Luz, nesse momento em que o conceito onírico do que, para o comum dos mortais é real, se clarifica e desabrocha num estado atento de vigília; só e apenas aí percebemos que o que importa: a procura, a paixão, é o desejo maravilhoso de nos ultrapassar em cada momento, e o esforço que colocamos para o fazer. Porque nada me falta se em tudo o que faço e com tudo o que me acontece agir verdadeiramente, pondo aí tudo o que tenho e tudo o que Sou. Nesta trilogia sobrenaturalmente humana de vero Amor, Fé e Dever (expresso na Força, com o seu cumprimento), nos Tornamos. Tal é a aspiração máxima de existir: libertar-se quando se dignifica. Liberdade total é com os elementos que nos são e vão sendo impostos, as coacções biológicas, psicológicas e sociológicas, (num uno indivisível de quem somos), lutar pelo melhor. Construirmo-nos e ao nosso meio. Ver sintetizado um Todo que dividido seríamos incapazes de compreender.
O único objectivo e simultaneamente obrigação da nossa existência é, desta maneira e de todas as formas, Ser. E consciencializá-lo é escolher a Felicidade.


Francisca Soromenho

2008/01/30

Hesitas, e voltas, recuas e avanças: eu aguardo.

Desta vez com um beijo, com a brandura morna de quem se esgueira por uma porta entreaberta, suavemente foste-te entranhando até o teu sangue se confundir com o meu.
Um pedido, um susto, um arremesso brusco, turbulência maldita à qual me fui acostumando, e manter-me de pé só para poder cair…
Mas não podia ser só assim? Não podia ser a minha peripécia uma, e uma só, e tinhas tu também de me iludir? Dar-me todo o Mundo numa hesitação e fazeres por que percebesse que, sim, errei para sempre e não há voltar atrás?
Mata-me de uma vez! Não me faças sonhar mais contigo nem com o calor dos teus braços! Acaba, minha vida, com o meu tormento! Pois amei, vivi, sonhei e fui Feliz demais, um demais à minha condição humana, um demais ao corpo terreno ao qual estou presa!
Põe fim ao meu martírio, sou eu que te suplico, que ponhas um ponto final a esta morte lenta e agonizante em que me encontro, e deixa-me descansar! Vou aguentando, no murmúrio de uma oração solene e triste que me pesa na alma mais e mais, e amarro-me à incerteza plena entre um viver intenso, feliz, mas sofrido, e uma paz vazia mas reconfortante na qual me poderia esconder…
E intromete-se Deus, e a minha filosofia, e o prospecto do futuro e as memórias de um passado para não me deixar escolher! E apareces tu a dar alento, só tu para me sorrires e dizeres que te encontras alegre, e que me resta senão alimentar-me de ti?
Desgraçado, amor fero e eterno, que ora me dás esperanças ora me condenas, ora infundes vida ou ma ceifas, ritmada e constantemente, tirando-me o tapete debaixo dos meus pés. Tens sentido? Ou simplesmente te satisfazes ao me torturares, ou o flagelo é um teste à minha força, alma minha, e ver se duro o tempo todo sorrindo?
Dúvida, bruta dúvida que com mãos rudes me apertas o pescoço, mas só para me angustiar.

Preciso de uma eutanásia de mim, de ti, do impasse e do sofrimento em que me encontro… porque a dor é insuportável, e já me cansei de me arquejar.

2008/01/28

Lobisomens

Um deslindar curioso, que nunca tivera eu reparado em ti… e tu já me conhecias, tão bem. O teu respirar calmo, os teus comentários argutos, que em mim penetravam tal presa insuspeita… objecto de estudo prolongado, para ti, predador sábio e vivido que temerariamente voltavas à caçada. E entre cigarrilhas, vinho verde e luz dourada foste-te perdendo, caindo no abismo do qual nunca conseguiste retornar. A tua teia tornou-se minha.
Depois de tanta análise, de tanta preparação sensata para um acto rápido de ardor, acabas concluindo que ainda sou um enigma. Porque expectativas a curto prazo e prazeres mundanos depressa se fundiriam com ambições futuras, longas, demoradas, um eterno familiar que nunca perturbara os teus pensamentos, mas que agora te piscava o olho.
Não fui nem a primeira, nem serei a última, a ter olhado para ti, e ter-me deixado conquistar, com esses olhos cativantes que me vão despindo, num tom descarado e sôfrego. Não fui a primeira, nem serei a última a, receosa, dar-te um não, temendo por essa voracidade descontrolada. No entanto, sou a única, a única com a ciência uterina e inexpugnável que conseguiu enlouquecer-te de desejo, e deixar-te somente a fugaz memória de uma gargalhada. Fiz-te sofrer, e apaixonaste-te por essa dor.
Resta-te a representação sinestésica, amarga e injusta do conceito que eu sou, para que te martirize no silêncio. Mas não era o meu objectivo. Quedas-te, remoendo na noite solitária a tua campanha inacabada, pelo simples facto de sermos fruto da mesma colheita amarga – que nos distinguiu da maioria. O mesmo passado bruto que nos foi refinando, e os mesmos planos pessoais que fundaram o nosso Mundo. Ou ousas pensar que não sei? Arriscas apostar na crença falaciosa de que o meu encanto é uma arte, e ignorar que é nada mais que reflexo de ti?
Enganas-te, novamente. Porque com um esboço de um sorriso tímido, te desmascaraste para mim, e mostraste ser nada mais do que meu par.
Para os outros, continuas, envergando essa postura arrogante e abusadora, um escudo de ilusões másculas e adultas no qual te sentes protegido, camuflado num mar de testosterona que é para ti real. Debaixo dessa camada falsa de confiança, para além dessas garras impiedosas e de toda a força bestial, esconde-se um ser dócil que anseia por serenidade. Um Homem, de coração sensível e frágil, que colocou uma máscara para que nem ele próprio – tu – visses o teu lado terreno.
E insistes, sendo essa a tua magia: a dualidade fera – Homem. A disparidade que vai do animal selvagem, do predador que me traga sem ter me tocar… e do rosto miúdo que se perde com carinhos e mimos. Cujo desejo máximo é aninhar-se no calor confortável de outro corpo, e simplesmente repousar ao lado de quem ama. Injusta vida regida por aparências; como eu te percebo.
Tremes, recuas, finges aos olhos do Mundo que nada nunca aconteceu, e o teu ego fica inabalável. Será?
Novamente, quando rasgas a roupa de outro corpo, quando avidamente deglutes cada fracção de mim, só te dilaceras a ti mesmo. Perdendo-te em luxúria e volúpia miseráveis e infantis, só te corrompes a ti. E admiram-te, e aplaudem-te por essa sagacidade desmedida, e cada gesto aprovador do teu círculo de fachada se vai em ti enterrando.
Não falta que te veja chorar, porque sofro por tuas dores tomando-as como o que são: minhas. Como te conheço, meu igual, como te vou sentindo, e duramente me vais atormentando, com uma lembrança ondeante que oscila entre o lascivo e o terno…
Cruel fado, que trarias a inquietude aos grandes, de ansiar pela mansidão.

E nós dois, e nós dois...

2008/01/22

No que nos tornámos

O duro do teu olhar entristece e desanima-me, com esse sério contemplar que em mim repousa. Não vedes que este caminho, pleno de pedras afiadas e voltas sinuosas, foi só para nos ajudar? Nada se perdeu, tudo se ganhou, e em cada derrota lamentada apenas vencemos.

Porque te dói, agora, olhar para nós e ver no que nos tornámos? Porque sentes falta do outro dia em que era meramente um jogo, um recreio intenso e desmedido em que cegamente te perdias? Porque ao saíres de ti mesmo envergas um luto intransponível, para que todos saibam que doeu? É tão opróbrio o negro da tua forja?
Diz-me, do coração, se não te orgulhas das nossas gargalhadas marcadas com o rouco dos cigarros que fumámos sem pensar. Diz-me, de ti, do teu racional empedernido, que se de todas as cicatrizes não saíste mais douto. Atenta, que se ontem éramos muito, hoje pois somos muito mais.

A lascívia vã e infantil é meramente uma prisão para o ser humano que quer Ser, além da sua condição. O Homem transcende-se, e é mais que ele próprio, pois ao amar dignifica-se. Hoje, somos mais.
Somos amor de querer ao outro bem, somos amor de nos conhecermos em pleno. Somos amor de um caule imenso que vai deste cárcere terreno a Deus. Podemos já não ser de um brilho vítreo e cristalino, mas adensou-se vida em nós, e somos mais!
Não grites, não esperneies, não difames o cálice de que tragaste. Se o ontem foi muito bom e inesquecível, saboreia hoje este óptimo eterno, que por ti aguarda.

Crescemos em sonhos ultrapassados, crescemos em mares que atravessámos. Crescemos em dor, crescemos em revolta, crescemos na crua realidade do insucesso das nossas expectativas. Crescemos porque, por momentos fomos crianças, e porque soubemos outrora ser mais sábios que toda a idade. Finalmente, neste agora tardio, aprendemos a amar.

Tua, sempre tua,
Francisca Soromenho

2008/01/08

Sem título - PROMETO QUE VOLTO À PROSA...

Uma capa perfeita de verniz onde me posso esconder
Uma camada imaculada, linda, transparente
Onde sei que me vês, mas não me queres ver
E me deixas cativa a ti, enjaulada comigo, passando indiferente

Um universo só meu onde me recolho dos olhos do Mundo
E tu, sabendo, ficas indiferente.
Volto, e entro, para me afogar num poço de gritos surdos, sem fundo.
Só gostava de acabar com a frustração, só queria me sentir dormente...
Libertar-me das amarras do conformismo, e respirar "porque sim".
Sem motivos, nem causas, nem uma análise esbaforida e presistente,
Só respirar sem que ninguém me condenasse por ser para mim.
Viveria sem ti, sem os outros, sem este desejo ardente,
Respiraria flutuando, sozinha, outra vez no meu espaço santo
Não teria a agonia de me sentir desprezada e de te ver a ti ausente
e não haveria mais muros para criar esta prisão de mágoas que canto,
não existiria ninguém mais que me fizesse crer, assim, indiferente.
Só a brisa para me balouçar, e me envolver no seu manto...


Francisca Soromenho, 2008.01.07 @ bela da linha azul
acompanhando a maior viagem de todas